30 de jan. de 2007

Ressonâncias : enviado por Liana


Por mais que uma vela
seja vizinha
de outra chama,
por mais que uma vela
seja seguida
pela caravela de sopros,
por mais que uma vela, segure a barra do vestido,
na ascensão,
a vela é sempre solitária,
uma forma da luz
ser indigente.

Fabrício Carpinejar

22 de jan. de 2007

Poemas

> Lento mas vem> Mario Benedetti> >


Lento mas vem > o futuro se aproxima> devagar> mas vem> > hoje está mais além> das nuvens que escolhe> e mais além do trovão> e da terra firme> > demorando-se vem > qual flor desconfiada> que vigia ao sol > sem perguntar-lhe nada> > iluminando vem > as últimas janelas> > lento mas vem > o futuro se aproxima> devagar> mas vem> > já se vai aproximando> nunca tem pressa > vem com projetos > e sacos de sementes> > com anjos maltratados> e fiéis andorinhas> > devagar mas vem > sem fazer muito ruído> cuidando sobretudo> os sonhos proibidos> > as recordações dormidas> e as recém-nascidas> > lento mas vem > o futuro se aproxima> devagar> mas vem> > já quase está chegando> com sua melhor notícia> com punhos com olheiras> com noites e com dias> > com uma estrela pobre> sem nome ainda > > lento mas vem> o futuro real > o mesmo que inventamos> nos mesmos e o acaso> > cada vez mais nós mesmos> e menos o acaso> > lento mas vem > o futuro se aproxima> devagar> mas vem> > lento mas vem > lento mas vem> lento mas vem>
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Nove Haicais> Dalton Trevisan > > 1> Dou com um perneta na rua e, ai de mim, pronto começo a manquitolar.> > 2> Uma bandeja inteira de pastéis. Como escolher um deles? São tantos.> — Fácil: deixe que ele te escolha.> > 3> A tipinha de tênis rosa para o avô que descola um dinheirinho:> — Pô, você me salvou a vida, cara!> > 4> O inimigo de futebol:> — O meu amor pela Fifi é maior que o amor pelo Brasil.> A doce pequinesa que sofre dos nervos com a guerra da buzina, corneta,> bombinha, foguete.> > 5> — Sabe o que o João deu para o nenê, filho dele? Meia dúzia de fraldas e um> pião amarelo.> > 6> — Casei com uma puta do Passeio Público. Tinha tanto piolho que, uma noite> dormia de porre, botei um pó no cabelo dela. Dia seguinte, lavou a cabeça e> ficou meia cega.> > 7> De repente a mosca salta e pousa na toalha branca. Você a espanta, sem que voe> — uma semente negra de mamão.> > 8> Parentes e convidados rompem no parabéns pra você. De pé na cadeira, a> aniversariante ergue os bracinhos:> — Pára. Pára. Pára.> Na mesa um feixe luminoso estraga o efeito das cinco velinhas.> — Mãe, apaga o sol.> > 9> A chuva engorda o barro e dá de beber aos mortos.> >
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Memória> Carlos Drummond de Andrade> > Amar o perdido> deixa confundido> este coração.> Nada pode o olvido> contra o sem sentido> apelo do Não.> As coisas tangíveis> tornam-se insensíveis> à palma da mão> Mas as coisas findas> muito mais que lindas,> essas ficarão.> > > "Não tenho a menor pretensão de ser eterno. Pelo contrário: tenho a impressão> de que daqui a vinte anos eu já estarei no Cemitério de São João Baptista.> Ninguém vai falar de mim, graças a Deus. O que eu quero é paz". CDA> >