22 de mai. de 2007

Hemingway e o tempo


Descascando Laranjas

Ernest Hemingway, o autor do clássico “ O Velho e o Mar”, misturava momentos de dura atividade física com períodos de inatividade total. Antes de sentar-se para escrever as páginas de um novo romance, passava horas descascando laranjas e olhando o fogo.
Certa manhã, um repórter notou esse estranho hábito.

“Você não acha que está perdendo tempo?”, perguntou o repórter. “ Você é tão famoso, não deveria fazer coisas mais importantes?”

“Estou preparando a minha alma para escrever, como um pescador prepara seu material antes de sair ao mar”, respondeu Hemingway. “ Se ele não fizer isso e achar que só o peixe é importante, jamais irá conseguir coisa alguma”.
.....
pintura: Yvan Aivazovsky (1917-1900)

12 de mai. de 2007

Manuel Bandeira



Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público
Com livro de ponto expediente
Protocolo e manifestações de
Apreço ao Sr. Diretor.

Estou farto do lirismo que pára
E vai averiguar dicionário
O cunho vernáculo de um
Vocábulo.

Abaixo os puristas.

Todas as palavras sobretudo os
Barbarismos universais.
Todas as construções sobretudo
As sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo
Os inumeráveis.

Estou farto do lirismo namorador
Político
Sifilítico
De todo lirismo que capitula
Ao que quer que seja
Fora de si mesmo

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela
De cosenos secretário
Do amante exemplar com
Cem modelos de cartas
E as diferentes maneiras
De agradar às mulheres,
Etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Skakespeare

Não quero mais saber do lirismo
Que não é libertação.
.
Manuel Bandeira
.

6 de mai. de 2007

Finisterrae



Aqui começa o fim


Feito de vento.

Enlouqueceu a bússola

Do tempo.


Naufragam as certezas

Do infinito.

Aqui se acaba o mapa

Nasce o mito.


Aqui começa a morte

Em naves findas.

Aqui começa o medo.


Como um grito.


Renata Pallottini